quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

"A Estrada da Noite" por Joe Hill


" (...) Ele estremece - outra dor aguda, como uma punhalada, na cabeça. Quer acreditar que ela está confundindo as coisas, que não sabe onde estão. Ela pode estar errada. Além de não ser noite, aquilo estava longe de ser uma estrada.
   Mais um minuto e avançam aos solavancos por dois sulcos na terra, trilhas estreitas com uma larga camada de capim e flores silvestres crescendo entre elas, batendo no pára-lama, roçando na carroceria. Passam pelos destroços de uma caminhonete clara estacionada sob um salgueiro. O capô está aberto, com mato crescendo lá dentro. Jude não concede mais que um olhar de passagem.
   As palmeiras e o mato se abrem assim que fazem a curva seguinte, mas Marybeth diminui a marcha. O Mustang agora mal está rodando e eles continuam na sombra fresca das árvores que se debruçam sobre a estrada. O cascalho é agradavelmente triturado sob os pneus, um som que Jude sempre gostou, um som de que todo mundo gosta. Além da clareira coberta de relva fica o lamacento e escuro lago Pontchartrain, a água encrespada pelo vento e as pontas das ondas cintilando como aço polido, novo em folha. Jude fica um pouco surpreso com o céu, tingido de um branco uniforme e ofuscante. Um céu tão inundado de luz que é impossível olhar diretamente para ele, até mesmo para saber onde está o sol. Jude desvia a cabeça, estreitando os olhos, levantando a mão para protegê-los. A dor em sua têmpora esquerda se intensificava, latejando no ritmo de sua pulsação.
   - Porra - diz ele - Este céu.
   - Não é incrível? - diz Anna de dentro do corpo de Marybeth - Você pode ver lá longe. Pode olhar dentro do infinito.
   - Não posso ver merda nenhuma.
   - Bem - diz Anna, mas ainda é Marybeth atrás do volante, a boca de Marybeth se movendo -, você precisa proteger os olhos da visão. Não pode realmente olhar para lá. Ainda não. Nós também temos dificuldade em olhar de novo para seu mundo. Talvez você tenha notado os riscos negros diante de nossos olhos. Pense nisso como os óculos de sol dos mortos-vivos. - Uma declaração que faz com que ela comece a rir, o riso rude, rouco de Marybeth.
   Ela para o carro bem na beirada da clareira, puxa o freio de mão. As janelas estão abaixadas. O ar que sussurra sobre Jude tem o cheiro doce de mato queimado de sol e de relva revolta. Ao longe ele pode detectar o perfume sutil do lago Pontchartrain, um odor fresco, pantanoso.
   Marybeth se inclina para ele, põe a cabeça em seu ombro, põe um braço em sua cintura e, quando torna a falar, é com sua própria voz.
   - Gostaria de estar voltando para casa com você, Jude.
   - O que está querendo dizer? - Ele sente um calafrio repentino.
   - Bem - ela olha amavelmente para seu rosto -, quase conseguimos. Não é verdade que quase conseguimos, Jude?
   - Pare com isso! - diz Jude - Vopcê não vai a lugar nenhum. Vai ficar comigo.
   - Não sei - diz Marybeth. - Estou cansada. É um longo trajeto e acho que não vou conseguir voltar. Tenho certeza de que este carro está usando alguma parte minha como combustível e estou à beira de ficar esgotada.
   - Pare de falar desse jeito
   - Não íamos ouvir um pouco de música?
   Ele abre o porta-luvas, remexe em busca de uma fita. É uma coleção de demos, uma coleção particular. Suas novas canções. Quer que Marybeth as ouça. Quer que ela saiba que ele não desistiu de si mesmo. A primeira faixa começa a tocar. Brinde aos mortos. A guitarra soa e se ergue num hino country, uma doce e singular música evangélica com poucos sons eletrônicos, uma canção de lamento. Porra, sua cabeça dói, agora de ambos os lados, um firme latejar atrás dos olhos. Porra, aquele céu com sua esmagadora luz. Marybeth se empina no banco, só que não é mais Marybeth, é Anna. Seus olhos estão cheios de luz, cheios de céu.
   - O mundo inteiro é feito de música - diz ela. - Somos todos cordas numa lira. Nós ressoamos. Cantamos juntos. Isso foi bom. Com esse vento no meu rosto. Quando você canta, estou cantando com você, querido. Sabe disso, não sabe?
   - Pare - diz ele. Anna se ajeita atrás do volante e põe o carro em movimento. - O que está fazendo?
   Marybeth, agora no banco de trás, se inclina para tocar a mão de Jude. Elas estão separadas agora - são duas pessoas distintas, talvez pela primeira vez em dias.
   - Tenho de ir, Jude. - Ela se curva sobre o banco para por a boca na dele. Tem os lábios frios e trêmulos, - Você salta aqui.
   - Nós - diz ele e, quando ela tenta retirar a mão, ele não a deixa partir, aperta mais forte, até sentir os ossos dobrando sob a pele. Torna a beijá-la e diz em sua boca:
- Nós saltamos. Nós. Nós!
   De novo o cascalho sob os pneus. O Mustang segue sob céu aberto. O banco da frente está cheio de luz, uma incandescência que apaga o mundo inteiro além do carro, não deixando nada além do interior e, mesmo isso, Jude mal consegue ver através dos olhos apertados. A dor que explode atrás dos globos oculares é atordoante, maravilhosa. Ele ainda segura a mão de Marybeth. Ela não pode ir se ele não a soltar, e a luz - oh, Deus, há tanta luz! Há alguma coisa errada com o estéreo do carro, o volume da canção de Jude aumentando e diminuindo, submergindo sob um pulsar harmônico, profundo e baixo, a mesma estranha música que ele ouviu quando caiu pela porta entre os mundos. Quer contar alguma coisa a Marybeth, quer dizer a ela como lamenta não ter cumprido suas promessas, as que fez a ela e as que fez a si próprio. Quer dizer como a ama, o tanto que a ama, mas não consegue encontrar sua voz nem pensar com a luz nos olhos e aquele zumbido na cabeça. A mão dela. Ainda tem a mão dela. Aperta mais uma vez sua mão, e outra, tentando dizer o que precisa dizer pelo toque, e ela aperta de volta.
   E lá fora na luz vê Anna, ele a vê cintilando, brilhando como um vaga-lume, ele a vê se afastar do volante, sorrindo, e estender os braços para ele, pondo a mão sobre a dele e a de Marybeth (...)"
 

sábado, 16 de fevereiro de 2013

O Inesperado

Enquanto as gotas da chuva caíam, ela pensava:
Não poderia parar, ainda se quisesse.
Ele a trouxe algo novo. Algo que ela não sabia se seria capaz de ter algum dia.
Não sabia se conseguiria sequer imaginar se existia.
Não são precisamente flores, presentes ou nada que o dinheiro possa comprar...
Só o jeito que ele tocava a mão dela já era suficiente! Só o jeito
que seus olhos se cruzavam já era capaz de tirar os pés dela do chão!
E então, com um bilhão de coisas na cabeça, ela adormeceu....

... e só saberá a continuação disso tudo quando acordar amanhã pela manhã!


Som de hoje: https://www.youtube.com/watch?v=WK2siEQsADk

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

A Banda Mais Bonita da Cidade - Oração




Meu amor, essa é a última oração
Pra salvar seu coração
Coração não é tão simples quanto pensa
Nele cabe o que não cabe na despensa

Cabe o meu amor!
Cabem três vidas inteiras
Cabe uma penteadeira
Cabe nós dois

Cabe até o meu amor, essa é a última oração
Pra salvar seu coração
Coração não é tão simples quanto pensa
Nele cabe o que não cabe na despensa

Cabe o meu amor!
Cabem três vidas inteiras
Cabe uma penteadeira
Cabe nós dois

Cabe até o meu amor, essa é a última oração
Pra salvar seu coração
Coração não é tão simples quanto pensa
Nele cabe o que não cabe na despensa
Cabe o meu amor!
Cabem três vidas inteiras
Cabe uma penteadeira
Cabe essa oração

Play: http://www.youtube.com/watch?v=QW0i1U4u0KE

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Novo Dia de Novo



Amanheceu.
Busquei bem lá no fundo aquela nostalgia ainda adormecida.
Parece mentira, mas anos e anos continuaram intactos!
Os sentimentos ainda são os mesmos!
Tomei um café...

Não por estar habituada, mas queria sentir a agitação de um novo gole.
O vento sopra de novo, o céu sorri de novo... Um novo dia nasce!